As vertiginosas encostas madeirenses não são o cenário tradicional para a plantação vinícola. A orografia da ilha não permite grandes explorações, forçando os produtores a focar na qualidade e não na quantidade – “são poucos, mas bons”, como diz a sabedoria popular. O Vinho Madeira tem uma história atribulada, fascinante e um futuro promissor.
Primeiro, uma pequena lição de história. A ilha da Madeira foi descoberta em 1419, por navegadores portugueses, no início da Época Dourada dos Descobrimentos. Uma terra até então praticamente intocada pela civilização, as primeiras culturas introduzidas em solo madeirense foram o trigo, a cana-de-açúcar, e a vinha. De acordo com os relatos históricos, a primeira casta de uvas plantada na Madeira foi a Malvasia Candida, importada da ilha grega de Creta a pedido do Infante D. Henrique. Posteriormente foram introduzidas outras castas, como a Sercial, Boal, Verdelho e Tinta Negra.
Por volta do séc. XVI, a indústria vinícola da Madeira começava a ganhar notoriedade, fornecendo vinho às colónias Americanas, e aproveitando a localização geográfica da Madeira como ponto de paragem nas longas viagens marítimas entre a Europa e as Américas. Para evitar a deterioração do produto durante a viagem, começou-se a adicionar álcool de cana destilado ao vinho, estabilizando-o. No entanto, o transporte marítimo tinha outro efeito secundário: as elevadas temperaturas nas quais as pipas ficavam armazenadas no porão dos navios transformavam o vinho, dando-lhe características únicas. É este processo de envelhecimento que distingue o Vinho Madeira, e o torna tão apreciado.
Os Madeira provêm de solos íngremes basálticos, vulcânicos, ricos em ácidos e minerais como o ferro e o magnésio, que, em conjunto com a proximidade marítima produzem vinhos com elevado teor de acidez e salinidade. A maior parte dos Madeira são produzidos a partir da casta Tinta Negra, sendo que as uvas brancas usadas – as chamadas “nobres” - são a Malvasia, Bual, Verdelho e Sercial. A casta Terrantez também é usada, embora menos frequentemente. A colheita de uva é feita quase exclusivamente à mão, por métodos tradicionais.
Após a fermentação o Madeira entra num processo de envelhecimento designado Estufagem. O vinho é exposto ao calor e ao ar, de forma a recriar o clima tropical das viagens marítimas de outrora. Existem vários métodos de Estufagem. O mais tradicional e demorado, reservado para os melhores Madeira, é o Canteiro. Este método envolve armazenar o vinho em pipas de madeira expostas ao calor do sol, envelhecendo o vinho naturalmente durante muitos anos. Este processo confere ao vinho uma estabilidade lendária. Mesmo uma garrafa aberta mantém as suas propriedades inalteradas durantes várias décadas. É um vinho dito “indestrutível”.
O Madeira é, em grande parte, produzido a partir da Tinta Negra, que é a casta mais cultivada nos terrenos madeirenses. No entanto esta era habitualmente associada a qualidade inferior, sendo relegada para uma segunda classe, atrás das castas ditas “nobres”. O uso da Tinta Negra nos Madeira era feito em segredo, e era proibida a sua referência nos rótulos. Nos últimos anos cresceu a popularidade desta casta para vinhos mais sofisticados. Atualmente a Tinta Negra é aceite como estando no mesmo patamar das ditas “nobres”, e já aparece em lugar de destaque nos rótulos, como é exemplo o Barbeito Single Harvest Tinta Negra 2007. Os estilos tradicionais do Madeira são homónimos às 4 castas “nobres” que os compõe: Sercial (seco), Verdelho (meio seco), Bual (meio doce), Malvasia (doce). O Terrantez, com um grau de doçura entre o Verdelho e o Bual é menos frequente dado que esta casta esteve perto da extinção na ilha.
É importante referir também o Rainwater, um estilo muito apreciado especialmente na América do Norte. O Rainwater é mais leve que o vinho Madeira tradicional, meio seco e normalmente uma mistura da Tinta Negra com Verdelho. Reza a lenda que é assim chamado devido a um incidente que envolveu um carregamento de Vinho Madeira destinado às colónias americanas que ficou armazenado incorretamente numa doca e ficou diluído pela chuva. Os mercantes, apercebendo-se do ocorrido, venderam o carregamento como um “novo estilo” de Vinho Madeira e ficaram estupefactos com a elevada popularidade. E o resto, como se costuma dizer, é história…
O Madeira pode ser comercializado como Reserva, Reserva Velha ou Reserva Extra (envelhecido 5,10 e 15 anos, respetivamente), Colheita ou Frasqueira (envelhecido por, pelo menos, 20 anos em canteiro).
O Vinho Madeira é muitas vezes considerado um aperitivo e/ou digestivo e consumido como tal. Ainda assim, os seus vários estilos, misturando doçura e elevada acidez, acompanham muito bem sobremesas doces, queijos e pratos quentes, mesmo de natureza cítrica ou balsâmica. Para uma experiência única de viagem no tempo, procure um Madeira Frasqueira, com 20, 30, 40 ou mais anos.
O Vinho Madeira é apenas um dos aspetos culturais da ilha da Madeira – o melhor destino turístico insular do mundo desde 2015. Já para não falar do ambiente empresarial vantajoso! Consulte o nosso guia (abaixo) ou contacte-nos para mais informações.